Cada vez mais próxima (e polêmica), relação entre humanos e animais de estimação desafia noção tradicional de família
Já vamos começar respondendo, de cara, à pergunta anterior: NÃO NECESSARIAMENTE! Mas há muito que se conversar sobre os preconceitos e exageros que envolvem o tema.
De acordo com a psicóloga Ana Paula Santa Helena (CRP 08/11128), companhia e afeto são apenas alguns dos aspectos da relação entre humanos e animais de outras espécies.
Observamos a presença dos pets em todas as configurações familiares. Observamos também relações saudáveis, cheias de bem-estar e aprendizado entre espécies diferentes.
Recentemente, declarações do Papa Francisco, que classificou a escolha de ter pets em vez de filhos como “egoísta” e “menos humana”, jogaram lenha na fogueira.
Dependendo de como se olha para a questão, pode ser exatamente O OPOSTO. E não por acaso, a “parentalidade de pets” (pet parenting, em inglês) vem sendo alvo de estudos.
As pesquisadoras Nicole Owens e Liz Grauerholz concluíram que condenar o pet parenting é desconsiderar a complexidade das relações humanas e deslegitimar uma forma não tradicional de família.
Participaram do estudo famílias com crianças pequenas, de até 2 anos; famílias com crianças mais velhas e famílias sem crianças.
As pesquisadoras destacam que há semelhanças entre o “investimento” feito em crianças e pets, mas de forma a atender a necessidades específicas de cada integrante da família.
Isso apoia a ideia de que parte das pessoas que não têm filhos dedicam-se a animais de estimação, mas não como SUBSTITUIÇÃO.
Considerando que hoje há uma consciência muito maior em relação às características sociais e emocionais dos animais, este e outros estudos apontam para um caminho muito interessante.
Essas relações seriam, evolutivamente, aplicações novas de estratégias parentais, em um cenário também novo e flexível. Não são reflexo de uma falta, e sim uma habilidade humana colocada em prática.
Humanos teriam evoluído habilidades não só para serem pais de crianças, mas também, e antes de tudo, para cuidar, ensinar e amar outros seres sencientes.
Fatores associados à maior probabilidade de ter um animal de estimação são: ter tido um animal na infância, morar em uma casa com outras pessoas, morar em casa com crianças.
Pesquisas indicam também que a decisão de ter filhos é afetada por fatores como escolaridade e condição social percebida, e NÃO pelo fato de ter um pet ou tipo de vínculo com ele.
Fatores ecológicos, psicológicos, culturais/históricos/religiosos, demográficos e utilitários influenciam nossa convivência com animais de outras espécies, gerando uma variedade de relações.
Sem dúvida, há que se tomar cuidado com a antropomorfização excessiva, que pode colocar os pets no papel de mini-humanos, limitando seus comportamentos naturais.
Mas, se considerar um animal de estimação como membro da família significar um excelente cuidado para o pet e reduzir ou excluir a possibilidade de abandono, todos saem ganhando.
Curiosidade Antrozoologia é o estudo da interação entre pessoas e animais não humanos, considerada uma ponte entre as ciências naturais e sociais.
Faz sentido para você? Que tal saber mais?