No mês dos namorados, vem ler isso aqui se você acredita em amor incondicional
Dezenas de milhares de anos de domesticação e seleção realizada por humanos contribuíram para que os cães, enquanto espécie, se tornassem animais sociáveis e cooperativos com pessoas.
No entanto, cada cão é um indivíduo, com sua história, traços e tendências. Eles não entendem automaticamente quais são nossas expectativas em relação a eles.
A internet está cheia de tutores amorosos com receio de que seus cães não correspondam ao sentimento, porque resistem a contato físico e preferem manter certa distância ou espaço “pessoal”.
A mesma internet (além de livros e filmes) promove a ideia de que cães amam incondicionalmente — caso contrário, esse cão tem algum problema. Isso é um MITO.
Cães são capazes de criar vínculos muito fortes com humanos. Em muitos contextos, é exatamente isso que vão fazer. Mas não estarão dispostos a brincar e interagir em todos os momentos.
Cães têm diferentes personalidades e preferências. Isso não quer dizer que eles gostem mais ou menos dos tutores. E o fato de um cão ter comportamentos afetuosos não significa que ele “aceita tudo”.
Pesquisas mostraram que basta uma imagem ou o odor de objetos do tutor para ativar a liberação de ocitocina, conhecida como “hormônio do amor”, e áreas do cérebro canino relacionadas à recompensa.
OK, não está convencido? Tudo bem. Precisamos entender também se essa sensação que trouxe você a este conteúdo é de “meu cão não me ama” ou “meu cão não me ama MAIS”.
No segundo caso, em que há uma MUDANÇA no comportamento, é indispensável avaliar se há algum problema de saúde — desde dores até doenças — influenciando essa alteração.
Outro fator a ser considerado é o TEMPO em que o animal está com a família. Cães recém-chegados podem precisar de algumas semanas ou meses para sentirem-se seguros no novo ambiente.
Dependendo do contexto anterior, ele pode estar bastante amedrontado pelas mudanças de ambiente ou mesmo em relação a pessoas no geral.
É importante respeitar o tempo e o espaço deles e oferecer aos cães a ESCOLHA de se aproximar, recompensando-os por isso. Nunca devemos forçar o contato, ou ainda…
…sabe aquela ideia antiga de jogar a criança na piscina para que ela aprenda a nadar? As maiores chances são, comprovadamente, de que a criança desenvolva um trauma duradouro em relação à água.
Cães são muito parecidos com crianças em relação a essa forma de “aprendizado”. Não “afogue” um cão receoso em carinho, o efeito pode ser exatamente o oposto do que você deseja.
Quando trazemos um cão para casa e achamos que ele simplesmente deveria ser grato e nos amar incondicionalmente, esquecemos que “mudar a vida de alguém” pode ser assustador inicialmente.
Outra característica muito propagada em relação aos cães é a de que eles vivem apenas no momento presente. Isso não é verdade. Eles têm memória. Lembram-se de sensações e situações boas e ruins.
É muito importante lembrarmos disso na hora de treinar ou ensinar nossos cães. Métodos que utilizam broncas, sustos e ferramentas aversivas vão prejudicar o vínculo entre você e seu cão.
Por outro lado, métodos que se baseiam no reforço positivo dos comportamentos desejados, no manejo adequado e no respeito ao bem-estar vão fortalecer e construir esse vínculo de forma sólida.
Cães com rotina pobre, sem estímulos cognitivos, sociais, físicos e sensoriais adequados também podem ter menos disposição para tudo, inclusive afeto.
Além disso, nós não ficamos com nossos cães 100% do tempo. Nos momentos de ausência, fatos incontroláveis (um susto com um barulho externo, por exemplo) podem afetá-los emocionalmente.
E agora, o que fazer? Observar e aprender a linguagem dos cães é o primeiro passo, inclusive para entender se é uma característica do indivíduo ou se houve uma alteração no comportamento.
Aplique o teste do consentimento: faça um carinho ou brincadeira muito breve com seu cão e observe — ele busca mais interação? Ou olha para o lado, se afasta, boceja, lambe os lábios, abaixa a cauda?
De forma geral, cães não gostam de abraços no estilo humano. Eles vão preferir carinhos no peito, ombros e orelhas, sem que tenham os movimentos restritos.
Portanto, se não houve mudanças, se não há sinais de incômodo, agressão ou estresse, é bem possível que um cão seja mais reservado pelo jeito maravilhoso dele. Nem tudo gira ao nosso redor.
Sempre que tiver dúvidas, procure ajuda qualificada! Vem aprender mais: