28 mar RESPEITA OS GATO!
O que o Dia de Respeitar seu Gato (sim, ele existe) pode nos ensinar sobre convivência multiespécie
Hoje (28 de março) é o Dia de Respeitar seu Gato (Respect Your Cat Day)! Diz a lenda que a data foi estabelecida em homenagem ao momento em que o Rei Ricardo II baniu formalmente o consumo (!) de felinos na Inglaterra e seus territórios, lááá no século XIV.
Parece meio bobo ter um dia para celebrar algo que é nosso estilo de vida o ano inteiro, certo, gateiros? Mas é bom ter uma data para ampliar a consciência sobre o que significa bem-estar no mundo felino.
O respeito ao gato passa por algumas dimensões básicas (mas nem sempre óbvias, como gosto de dizer).
Gatos precisam de território, companhia, cuidados (nutrição, hidratação, saúde, higiene) e a oportunidade de levar uma vida livre de medo.
Dentro dessas quatro dimensões que destaquei, estão os cinco pilares de um ambiente felino saudável:
- fornecer lugares seguros;
- fornecer recursos chave (água, comida, pontos de banheiro, pontos de arranhadura, locais de brincar e descansar) de forma múltipla e setorizada;
- fornecer oportunidades de brincar e manifestar comportamento predatório;
- fornecer interação entre humanos e gatos de forma positiva, consistente e previsível;
- fornecer um ambiente que respeite a importância do olfato para o gato.
A partir de agora, vou dar exemplos práticos sobre como essas dimensões se relacionam com os pilares.
Tudo que está escrito aqui baseia-se no comportamento natural da espécie, nos conceitos de “lares livres do medo / fear free homes” e na otimização do ambiente para os felinos — o que costumamos chamar de enriquecimento ambiental. Lembrando que ele é uma necessidade, não um luxo.
Existem exceções e existem indivíduos que vão precisar de estratégias diferentes, é claro, mas aqui temos ótimas diretrizes para o máximo de respeito ao seu gato.
TERRITÓRIO
Gatos precisam também de refúgios seguros, onde se sintam protegidos, mas possam observar o lado de fora. Dá-lhe caixa de papelão e toquinhas!
Gatos precisam de recursos (água, comida, arranhadores, locais de descanso, refúgios, caixas de areia) múltiplos e dispersos no território. Não concentrados. Por favor, não faça “o quarto do gato”. E se você tem mais de um gato, ofereça mais recursos do que o número de animais.
Isso vale para tudo, inclusive o banheiro. Você deve buscar sempre ter o número de áreas de banheiro que corresponda ao número de gatos + 1. Exemplo: 2 gatos, três áreas de banheiro, que não podem ser no mesmo cômodo. Dê preferência às extremidades da residência para posicionar as caixas, em locais tranquilos, sem barulho e passagem constante de pessoas. As caixas devem ser grandes o bastante para que o gato dê uma volta em torno de si mesmo e com areia suficiente para ele enterrar suas obras.
Primeiro de tudo: gatos precisam de segurança para comer, beber, dormir e fazer suas necessidades.
E não importa o tamanho da sua casa ou apartamento, o território do gato deve ser pensado em três dimensões (o que, meus amigos, inclui a altura). Por serem, ao mesmo tempo, predadores e presas, gatos vivem fazendo cálculos de ameaça e controle em seu território. Observar o ambiente do alto é uma ótima forma de controlá-lo, para evitar possíveis ameaças. Janelas teladas, prateleiras, nichos e móveis são nossos aliados.
A areia deve ser semelhante à terra que o gato encontraria na natureza, ou seja, fina. Ela deve formar torrão e não ter cheiro. Os torrões e as fezes devem ser retirados todos os dias (no mínimo uma vez por dia, mas, dependendo do número de gatos, mais de uma) e a caixa deve ser lavada uma vez por mês, como regra geral.
Gatos precisam que a água fique longe da comida; e as duas longe da caixa de areia.
Arranhadores devem ser oferecidos em vários ambientes e em áreas de passagem. É importante oferecer diversos tipos, feitos de vários materiais; e adequados ao tamanho do gato se espreguiçando. Arranhar é um comportamento natural do gato, beleza, galera?
Gatos precisam também de um território em que eles reconheçam os cheiros. Esse é um dos motivos para eles se esfregarem em objetos, pessoas e outros animais. Além de ser a coisa mais fofa do mundo, é claro. Aromatizadores, produtos de limpeza com cheiro forte, perfumes humanos, areias com aromas e banhos sem indicação veterinária são inimigos dos gatos. Já os feromônios sintéticos, como Feliway, são amigos. 🙂
Acrescento aqui os estímulos sensoriais, como a erva catnip, o tronquinho ou pó da planta asiática matatabi e as plantas seguras para eles (ervas como hortelã, alecrim, manjericão e gramíneas, como milho e trigo). Os gatinhos dependem de nós para fornecê-las e elas são um excelente enriquecimento ambiental.
Apesar de não ser oficialmente um “pilar”, eu menciono, ainda no item território, o conforto auditivo, que pode ser oferecido com músicas desenvolvidas especificamente para os felinos.
COMPANHIA
Gatos precisam brincar e receber estímulos de forma equilibrada. Você é a fonte de tudo isso para seu bichano.
Ofereça brincadeiras que simulam a caça, um comportamento natural da espécie. Mas nunca com a nossa mão ou pé! Sempre promova a caça com um brinquedo (varinhas são ótimas!) ou objetos que escondem petiscos, como rolinhos de papel, dispensers e brinquedos próprios.
Eles apreciam também um senso de rotina. Se não tiverem ou não receberem estímulos suficientes, podem se tornar aqueles bichinhos que miam às 4h da manhã para serem alimentados ou brincar. Cuidado para não reforçar comportamentos que são fofinhos quando o gato é filhote e depois viram um grande problema com o animal adulto. Exemplo: eu mio e ganho petisco, oba!
E o carinho? Cada gatinho gosta de um tipo e de uma intensidade de carinho. Tem aqueles grudinhos, os que gostam de colo, o que dão cabeçadinhas; e tem aqueles que NÃO GOSTAM DE NADA DISSO. Uma coçadinha no queixo e atrás das orelhas já é suficiente. Sessões bem curtinhas de carinho são mais bem aceitas, em geral.
A maioria não gosta de colo ou de ser tocada na barriga. Para alguns gatos, só estar no mesmo ambiente já é companhia suficiente.
Desrespeitar o limite de cada gato é dar o sinal verde para uma agressão, e a culpa NÃO SERÁ DO GATO. Observe a linguagem corporal do seu bichinho (gatos também dizem não) e lembre-se: não é porque ele está quietinho, que está gostando!
Mas pera, meu gato precisa ter um irmão? Depende. Há gatos que vivem muito bem sozinhos e há gatos que vivem muito bem com outros gatos, cachorros, aves… Mas, por favor, se decidir adotar um novo animal, promete que fará a introdução passo a passo, com ajuda de um consultor comportamental, antes de levar o novato para casa?
CUIDADOS
Os cuidados para o bichano, desde sua dieta até a avaliação veterinária, devem ser específicos. Gatos não são cachorros pequenos. Procure um especialista em felinos e conte com ele para as orientações sobre alimentação, vacinas, check-ups anuais, sinais de problemas de saúde, prevenção de obesidade e outras doenças. Gatos são mestres em esconder doenças. É importante ser muito observador e aprender os sinais sutis de quando eles precisam de ajuda. Converse com seu veterinário.
No que se refere à alimentação, é importante ressaltar que hoje existem muitas opções de comedouros: altos para tornar a posição mais confortável; lentos para evitar que comam muito rápido e aumentar a saciedade; em forma de brinquedos, para simular a caça e o forrageio.
Tanto para água quanto para comida, tenha vasilhas com bocas mais largas, para evitar que os bigodes fiquem tocando as bordas.
Em relação à hidratação, vale lembrar que o sachê/patê diariamente e as fontes de água corrente são nossos aliados para evitar e retardar problemas renais.
Estão aqui também os cuidados com o pelo (escovação) e unhas (corte regular). Acostume seu gatinho com essas duas situações o mais cedo possível, com auxílio do reforço positivo. Treinos são excelentes ferramentas para deixar seu gatinho mais tranquilo e confiante, uma vez que ele saberá qual comportamento expressar.
E vale lembrar que nossos gatos vão ficar velhinhos e precisarão de cuidados específicos nessa fase. Respeite os véin!
VIDA livre de MEDO
O conceito de “vida sem medo” pode ser traduzido por uma vida plena, segura e saudável, ou seja, ele contempla todos os itens anteriores. E mais alguns.
O respeito ao gato inclui oferecer condições para que ele viva sem ameaças. É preciso reconhecer os gatilhos de medo e oferecer manejo cuidadoso e livre de agressão/violência, tanto em casa quanto no veterinário.
Lembre-se: a incerteza e a interrupção repentina da rotina são grandes fontes de medo para os gatos.
Janelas e rotas de fuga teladas previnem atropelamentos, brigas e ataques que mutilam e transmitem doenças, além de deixar seu gato vulnerável a maus tratos.
A proteção em relação a plantas tóxicas, objetos lineares que podem ser engolidos e objetos pontiagudos também são medidas importantes.
Uma apresentação adequada e a manutenção de estratégias de proteção em relação a outros animais da casa evitam que um gato viva em medo constante de ser atacado. Exemplo: um portão que permita ao bichano ter um tempo sozinho, longe do cachorro. Trazer um novo animal para casa pode significar alegrias para você, mas, sem apresentação apropriada, não para o seu gato.
Mais uma vez, a interação previsível, consistente e positiva com os humanos é uma forma fundamental de respeitar seu gato. Apertar seu gato contra o rosto para tirar uma selfie ou passar a mão nele porque “está muito fofinho dormindo” são interações que não oferecem nada disso. Invadir o espaço seguro do felino e forçar interações podem causar traumas que levam a problemas comportamentais e clínicos, como fazer as necessidades fora da caixa de areia, por exemplo.
Essas regras de interação se aplicam também às crianças e aos profissionais envolvidos no bem-estar animal — veterinários e pet sitters.
Confiar os cuidados de seu gato a uma clínica e um veterinário especializados em felinos é um ótimo passo para que ele seja manipulado a partir de técnicas “cat friendly” e “fear free”. Esses protocolos incluem a redução de cheiros e barulhos assustadores no ambiente; o manejo gentil e cuidadoso; a associação positiva; não imobilizar o animal pelo cangote e não colocar gatos e cachorros no mesmo ambiente de espera — para citar apenas alguns exemplos dessas iniciativas, que são amplas.
Em relação à caixa de transporte, a recomendação são os treinos para que o gato sinta-se tranquilo dentro dela, uso de Feliway sempre que possível e ainda cobrir a caixa com uma manta ou toalha, poupando o animal de sons e imagens não familiares.
O treino com reforço positivo é super importante também para que a tarefa de dar um remédio ao seu gatinho não seja um drama. Uma opção para esse treino é o método com clicker. Resumidamente, o clicker é um pequeno dispositivo que faz um “click”. Esse som é associado pelo treinador (você, com orientação profissional) a um reforço positivo e, gradualmente, com o timing correto, é capaz de direcionar o gato a expressar determinados comportamentos.
E o que mais?
Outros aspectos que significam respeitar seu gato:
- rejeitar teorias de dominância – não existe gato alfa (não existeeee);
- contratar uma consultoria para ajudá-lo a tornar sua casa o ambiente ideal para o gato e ajudá-lo a entender a linguagem corporal do seu bichano;
- entender que gatos não são cachorros e não se comportam como eles. Uma cauda balançando pode não significar felicidade.
Quando trazemos uma espécie diferente para nossa casa, não podemos esperar que ela viva de acordo com nosso estilo de vida. Temos que suprir suas necessidades específicas. Espécie – específicas, hã, hã, hã, pegou?
Se falharmos nisso, eles farão gambiarras para sobreviver (por exemplo, destruindo seus móveis, usando seu colchão como banheiro), ficarão doentes e/ou desenvolverão problemas comportamentais, como agressividade, compulsão e ansiedade.
Se a percepção do gato sobre seu ambiente e suas relações estiver mais na direção da ameaça do que do controle (previsibilidade), ele poderá viver em estado constante de estresse.
Tudo isso pode ser evitado com uma única regra, que origina todas as outras: um bom relacionamento é construído a partir de confiança e RESPEITO.
Marta Alves
Postado em 13:19h, 18 novembroEu adorei esse artigo sobre o respeito aos gatos, acho q faço a maior parte já por instinto, por exemplo, eu não suporto acordar minha gata qdo ela está dormindo, nem gosto q outra pessoa faça isso, respeito o sono dela tanto quanto o de qq pessoa de minha família, se todos praticassem esse respeito, com certeza nossos pets seriam superfelizes!
Letícia Orlandi
Postado em 14:46h, 18 novembroObrigada pela leitura atenta e por se esforçar para oferecer o máximo possível de bem-estar para sua gatinha!
Francisco Fabiano
Postado em 16:15h, 26 novembroMuito positiva essa matéria. Me ajudou bastante. Tirou muitas dúvidas. Gostaria de saber mais sobre esses maravilhosos felinos. Pois tenho 19 que me dão muitas alegrias e conhecimento sobre esses belos seres.
Letícia Orlandi
Postado em 16:28h, 26 novembroFrancisco, fico muito feliz que tenha gostado e tirado algumas dúvidas sobre sua tropa felina! Acompanhe mais informações aqui neste link (https://petsdalets.com.br/web-stories/) e também no Instagram https://www.instagram.com/petsdalets/